sexta-feira, agosto 14, 2009

O ENCONTRO QUE O ACASO PROVIDENCIOU...

" E se desistires de viver, como sabereis como teria sido?"
(Esyath Barret)

A vida é engraçada, porque funciona como uma teia do tempo, onde muitas e muitas pessoas se cruzam, sem conhecerem-se verdadeiramente... mas uma sempre pode influenciar na vida da outra, mesmo quando é um completo desconhecido... e tudo está sempre de algum modo conectado...

Dona Clara era uma dessas típicas pessoas que vivem a reclamar da vida, que passam despercebidas na rua e na vida dos políticos, mas que nem por isso deixam de existir, dependendo do SUS para se tratar com algum médico, dependendo das longas filas do INSS para receber sua aposentadoria, e da boa vontade dos motoristas de ônibus, para subir em um... Se ela não houvesse se casado com um bêbado imprestável que morreu em um bar, talvez não tivesse herdado as dívidas do falecido, que acabaram levando embora todas as suas parcas economias e a feito presenciar a morte de seu único filho, que teve pneumonia, e ficou à deriva em um hospital salafrário, sem sequer ser atendido... E Dona Clara, um belo dia, saiu de sua casa de primeiro andar de periferia, vestida com seu costumeiro vestido estampado, e com seus longos cabelos brancos e finos presos em coque, rumo ao banco para sacar sua mísera aposentadoria, pensando nessa trajetória dolorosa de vida, quando foi derrubada no chão, no momento de atravessar a rua, por Seu Pedro.

Seu Pedro, sempre foi um homem simples, campestre, que migrou para a capital, como muitos camponeses, em busca de uma condição de vida mais digna. Lá foi obrigado a se submeter aos bicos que surgiram como pintor e pedreiro para sustentar seus quatro filhos pequenos, que um dia, no futuro, se tornaram doutores. Ele era considerado um homem ignorante e rude, mas tinha um bom coração, que foi sorrateiramente pisoteado por sua esposa, quando esta, o traiu com seu vizinho. A mulher foi tão safada, que foi embora com o tal vizinho e deixou os quatro meninos para serem criados por Seu Pedro. Então, seus filhos cresceram, formaram-se, e deram ao pai uma bela casa, com um belo carro. Mas Seu Pedro não se conformava em viver do que considerava uma caridade dos filhos, então, decidiu continuar a andar pelas ruas de São Paulo na sua velha bicicleta, para continuar a trabalhar... a diferença é que agora ele era o Dono da Construction´s Nordeste, e no dia em que ele estava atrasado, achando que conseguiria manter na bicicleta o mesmo ritmo de quando tinha trinta anos, pensava em todas essas coisas, quando acabou atropelando Dona Clara.

Quais seriam as chances de Seu Pedro e de Dona Clara, que tinham vidas tão diferentes, e para muitas pessoas, até mesmo insignificantes, se conhecerem no meio da Avenida Paulista? A resposta mais provável é: nenhuma. Mesmo assim... foi o que aconteceu.
Talvez se Dona Clara não houvesse se casado com aquele zero à esquerda beberrão, houvesse tido a oportunidade de terminar seus estudos, de ter um bom emprego e ter feito um casamento mais feliz... não teria sido forçada à testemunhar seu filho morrer por falta de assistência... mas também não teria conhecido Seu Pedro...
Se Seu Pedro não houvesse ido morar em São Paulo buscando melhores condições de vida, sua esposa provavelmente não teria se amasiado com seu vizinho, e ele não teria lutado tanto para ver seus filhos formados, apenas porque eles dependiam exclusivamente dele para sobreviverem... Mas aí Seu Pedro não teria andado de bicicleta pela Avenida Paulista, atropelado Dona Clara e a conhecido...

- Já se passaram dez anos não é Pedro?
- Sim Clara, minha querida!
- Você se arrependeu?
- Nunca! Se dependesse de mim... teria feito tudo novamente... apenas para poder conhecê-la!
- Até mesmo me atropelado de novo?
- Mas você apenas quebrou uma perna! E se recuperou rápido!
- Eu sei! Mas nunca imaginei realmente que naquele dia... eu fosse conhecer o homem que me atropelando, mudaria toda a minha vida! E pensar que eu pensava que tudo estava realmente acabado...
- E eu pensando que tinha atropelado e te matado... Quando você abriu os olhos, sorriu para mim e depois me chamou de imbecil, eu percebi que você era a mulher da minha vida...
- Pedro, fala a verdade! Você disse que eu era uma doida, por andar na rua sem prestar atenção... e depois que ficou me visitando no hospital para ver como eu estava... é que percebeu que gostava um pouquinho de mim, não foi não!?
- Clarinha, você tem que dar um desconto! Naquele dia eu estava atrasado e depois fiquei muito nervoso! Mas quando doei sangue pra você, por conta da sua perda de sangue... me senti ligado a você...
- Engraçado... nunca pensei que você fosse uma pessoa sensível Pedro. Desde o momento em que o conheci, você pareceu meio grosseiro, mas depois demonstrou tanta preocupação comigo, que comecei a vê-lo com outros olhos...
- E meus filhos gostaram de você desde o primeiro instante... apenas o Eduardo deu trabalho...
- Acho que ele pensou que éramos velhos demais para nos casarmos novamente!
- Mas hoje ele até a chama de mãe...
- É Pedro. Nunca é tarde para levarmos a vida que queremos, com as pessoas que amamos... embora, as pessoas pensem que isso é consolação de psicólogo...
- Mas se trata da vida real Clara. Descobrir que não se está morto e que ainda se é capaz de amar...

E assim, Pedro e Clara, como um casal típico de pessoas anônimas, que encabeçam filas bancárias, seguros de vida, engarrafamentos de trânsitos e derivados, continuaram a passar despercebidos na vida da maioria das pessoas, mas ainda assim, continuaram a existir e a serem felizes...

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Queridos amigos fiquei imensamente feliz em saber recentemente que uma frase minha inspirou um concurso literário na cidade de Lajeado, no Rio Grande do Sul, como pode ser verificado aqui. Isso me fez ver que não devo abandonar meu blog, pois ele desperta o melhor de mim: a capacidade de escrever com amor e raciocínio. Agradeço a todos, as contantes visitas e prometo (novamente) atualizar constantemente as visitas que devo a todos vocês, bem como, as respostas aos comentários que sempre me deixam. Confesso que me afastei um pouco porque estava sem inspiração e também porque estou me dedicando a um romance... que toma um certo tempo... Mas espero conseguir conciliar tudo.

Beijos (Des)conexos!

Esyath Barret