quinta-feira, abril 03, 2008

TERAPEUTA APAIXONADO

"Sentimentos não podem ser medidos,
assim como a lucidez humana
não o pode."
(Esyath Barret)

- Darlene minha querida, não chore. Eu sei como é difícil ignorar esses intrometidos, mas não se sinta ofendida, não passam de solitários desesperados por um pouco de atenção!
- O quê querida?
- Você está amuada, não é? Por isso não quer conversar... Eu sei como é, mas, princesa, quando estivermos a sós... eu farei você voltar a falar novamente...
Quem fala isso é Pedro, um terapeuta matrimonial que encontrou a mulher de sua vida em uma viagem a São Paulo, a cidade que não dorme, justamente aquela onde ninguém se importa com a vida de ninguém... Assim que desceu no aeroporto sentiu-se perdido naquele caos, era um empurra-empurra, todos querendo passar ao mesmo tempo, e sendo ele um homem baixinho dentro de seus míseros 1,68m de altura, viu-se sufocado pela multidão, até que uma velha alta e gorda deu uma cotovelada nele fazendo-o cair no chão e sentir-se humilhado. Quando ele ia começar a xingar a estúpida, percebeu que tinha batido com a cabeça em um vidro. Uma vitrine na verdade. E então, ele a viu. A mulher dos seus sonhos estava lá, prontinha, sorrindo para ele e fitando-o através da vitrine da loja que ficava dentro do aeroporto. Rapidamente o mineiro levantou-se carregando sua mala e entrou na loja. Perguntou à vendedora o que podia fazer para conquistar a mulher da vitrine, ao passo que a vendedora respondeu cinicamente:
- É simples senhor. Basta o senhor pagar!
- Mas é imoral você comprar amor, moça!
- Senhor isso aqui é São Paulo! Quer ou não? Já tem outro cliente de olho...
Isso convenceu Pedro a se desapegar dos seus valores morais e responder:
- Está bem! Está bem! Vocês aceitam American Express?
- Claro, senhor! Aliás, o manual de instrução dela é em inglês... Mas nós fizemos uma tradução em português que custa apenas R$20,00, se o senhor quiser adquirir.
- Aonde nós chegamos!? Vocês agora vendem manuais para que saibamos como lidar com uma mulher?
- Bem Senhor, o senhor quer ou não?
- Afinal o que tem de tão importante nesse manual, moça?
A atendente o olhou discretamente e sussurrou:
- Explica como o senhor pode fazer a boneca falar, na hora “h” Senhor!
- Ah! Então eu quero...
Depois disso, Pedro, o terapeuta matrimonial nunca mais foi o mesmo homem. Estava sempre com Darlene, a mulher dos seus sonhos ao seu lado. A única que o compreendia, não brigava, era discreta, e lhe dava muito prazer. Mas o melhor na relação deles é que jamais ele desejou se casar novamente, pois isso terminaria implicando em mais filhos, ex-mulher e pensões... Algo que Darlene jamais lhe imporia. Por isso, quando houve a excursão de férias dos seus antigos colegas de faculdade, Pedro fez questão de levar Sua Darlene.
Ele detestava essas comemorações, pois todos sempre se gabavam das mulheres maravilhosas que levavam para cama, mas desta vez seria diferente, pois ele não apenas teria a mulher ideal, como poderia levá-la sem quebrar a regra que determinava que era uma excursão masculina, sua mulher iria em uma das malas, sem fazer barulhos. Na hora certa a apresentaria a todos, causando inveja.
O dia esperado finalmente chegou, Pedrinho, como era conhecido pelos colegas, chegou todo sorridente ao iate que se dirigiria do Porto de Santos até Fernando de Noronha. Assim que zarparam, ele apresentou sua mulher aos amigos e todos começaram a zombar dele. Um indagou:
- Que desespero é esse Pedrinho?
Outro cutucou o colega mais próximo e cochichou:
- Cara, o Pedro endoidou de vez. Meu irmão, como é que esse sujeito tem coragem de expor as taras dele a todos nós?
E o terceiro respondeu:
- Eu sempre soube que isso acabaria acontecendo. É nisso que dá, passar o dia todo tentando resolver problema de casais... coitado... não sabe mais o que é mulher...
E assim foi a viagem toda, mas ele não ligava, pois estava ocupado demais tentando entreter sua acompanhante para que não se importasse com os comentários, até que ele disse seriamente a todos, já irritado com as insinuações:
- Meus velhos, vocês não entendem que o importante é amar? Cada um ama a seu modo! O amor salva a todos! O meu por esta criatura aqui, é...
Antes que concluísse a frase, Pedro escutou os gritos de desespero quando a embarcação começou a afundar em alto-mar. Não houve tempo para averiguar a causa do infortúnio, pois todos corriam de um lado pro outro tentando encontrar coletes salva-vidas ou botes... Mas não havia, pois a empresa de navegação, a pedido dos excursionistas, não incluiu o material obrigatório de segurança para passeios ou viagens marítimas, uma vez que isso não permitiria que todos viajassem, já que a embarcação era pequena. Mas Pedro só se importava em salvar Darlene. Antes que o iate afundasse de vez, ele pulou no mar com sua alma gêmea. Viu muitos dos seus colegas afogarem-se. Mas ele estava seguro, Darlene flutuava, protegendo-o com o próprio corpo. Depois de uns dois dias em alto-mar, Pedro já não sabia quem era, onde estava... só pensava na sede, na fome... e no quanto sua Darlene era boa e o tinha protegido. Ele foi encontrado por um grupo de buscas da Marinha, e foi dado como o único sobrevivente do acidente. Mas o principal não foi isso... é que ele foi o único da sua época de faculdade a poder contar que havia encontrado sua alma gêmea. E assim, Pedro continuou sua vida ao lado da paulistana... Darlene.

The End