terça-feira, abril 17, 2007

HUMANIDADE = MENTIROSA

" O futuro depende de muitas coisas,
mas de apenas uma pessoa: você.
Não importa que se esconda,
ou renegue sua face,
em algum momento, a capa cairá.
A verdade, sempre surgirá!"
(Esyath Barret)
Destinatário: Ainda Desconhecido
Remetente: A Jovem que Busca o Futuro
Assunto: A Vida
Bem, adivinhe onde estou? No íntimo da minha consciência. Ah, não lembro bem como vim parar aqui... Na verdade, recordo vagamente de que algumas semanas se passaram desde que me irritei com a impertinência daqueles homens pedantes da estalagem do Senhor Meldritan me fitando como se eu fosse uma maldita rosa inglesa! Claro que minha avó era, mas ninguém pode adivinhar minhas origens meramente fitando minha face! Bem, as aparências enganam. Afinal, nem sei por quê me importo sobre o que vão pensar a meu respeito...
Mas é engraçado sobre como passamos a vida inteira tentando passar uma boa imagem para as pessoas e no fundo, acabamos misturando quem somos de verdade, com aquilo que os outros desejam que sejamos. Sem contar, que além disso, tem aquela parte de nós que desejamos que seja diferente do quem realmente somos, mas simplesmente não conseguimos mudar! Oh, como pode ser difícil definir quem sou e a minha maldita consciência que tanto me atormenta, para fazer valer meus detestados valores pessoais. Ah, sim, detestados, pois sempre me colocam em maus lençóis, mas ainda assim, continuam a fazer parte de mim! Existem pessoas como minha querida prima Anyath, as quais simplesmente ignoram o sentido destas palavras, agindo sempre baseados em experiências egocêntricas e o pior é que ainda assim, julgam os outros por si.
Assim sendo, bem, como vim mesmo parar aqui? Ah, lembro-me bem... Meu orgulho me fez achar que era auto-suficiente para não precisar de companhia, minha vontade de impor meus caprichos me fizeram chegar na estalagem sem avisar ninguém e meu desejo de ser decente e justa, contando a Jill que ele tinha direito sobre a minha herança me acarretaram em quê? Em quê? Ah, em ser passada para trás! O infame me seqüestrou! E ainda por cima disse que sabia do meu segredo! Como ele descobriu? Só Deus sabe... Bem, na verdade creio que é impossível mentirmos ou ocultarmos uma verdade por muito tempo... De um jeito ou de outro, sempre acabam descobrindo o que você anda fazendo. Até parece que escondendo das pessoas seus sonhos, você tenta esconder quem você é, como se temesse a censura bradada em críticas, ou as piores, aquelas mudas, vindas em olhares... De todo modo, a questão realmente é: você mente apenas para os outros, ou para si? Tentando agir discreta e disfarçadamente, você apenas renega a si próprio. O fato é que é óbvio, que dependendo da vida para cada qual foi criado, temos que nos adequar as circunstâncias e para não enlouquecermos por sermos obrigados a cumprir responsabilidades pelas quais não pedimos ou que desgostamos, temos que manter na mente algum tipo de meta. Indubitavelmente pagaremos um preço por nossas escolhas e muitas vezes até realizarmos nossos planos, teremos que cumprir ordens severas e antipáticas, muitas vezes fazendo exatamente aquilo que não desejamos: fingindo ser quem não somos.
Então o que acontece? É isso? Um ciclo? Tudo contribui para que eu me torne falsa? Talvez o Universo até conspire em determinados momentos a meu favor, mas é sabido que serei obrigada a jogar este jogo perigoso e traiçoeiro que é viver em sociedade e com pessoas estranhas. Sim, pois no fundo, nada é o que parece ser. Eu não sou idiota o suficiente para afirmar que conheço com presteza, sequer meus parentes. Todos para mim, não passam de pessoas com as quais convivo, com as quais cresci, mas que possuem rompantes de instabilidade dignas de qualquer ser humano. Convivi anos com a minha maman, acreditando tola e lealmente que jamais seria julgada como meus irmãos, que sempre foram mais afastados dela. E o que aconteceu? Na primeira oportunidade ela não se inibiu para despejar na minha cabeça exatamente aquilo que pensava a meu respeito, inverdades e o pior, ditas venenosamente sem objetividade. Na verdade, me foram atiradas ao rosto como farpas escaldantes, discretamente, através de insinuações. Então, de que adianta passar a vida fingindo ser o que não é, para agradar aqueles a quem tanto ama, se no fim, nem esse sacrifício vale a pena para eles? Não valho pelo que faço, ou pelo que sou, valho apenas pelo que aparento ser e ter. Uma carcaça fácil de ser destruída, mas as pessoas não se importam com isso. Talvez, Jill esteja me fazendo um favor, me afastando de tudo aquilo que conheci a vida inteira. Claro, que terei que me submeter as regras dele, assim como tive que me submeter as de minha família, dói também saber que ele não acredita no que vim lhe contar... Verdades... Verdades... Ninguém se interessa por verdades! As pessoas desejam apenas saber e ouvir aquilo que querem e que não lhe machuquem os frágeis egos. Ah, como está sendo difícil... Meta já tenho. Mas até cumprí-la, terei de pagar um alto preço: me dedicar a ser quem não sou. Mas quer saber de verdade? Pelo menos agora não tenho mais venda nos olhos, e só finjo para quem não quiser enxergar quem sou de verdade. Quero praticar a técnica milenar que aprendi com a dita humanidade: fingimento e superficialidade.
Claro que um dia, sei que poderei abrir minha vida, meus anseios, minhas esperanças e até mesmo minhas paixões, para quem estiver disposto a conhecê-las e compartilhá-las comigo, mas sem me controlar ou pressionar. E por enquanto, este não é o momento oportuno. Até lá, vou fingindo que estou em uma peça teatral e que a grande protagonista, é justamente uma ilusão que pode a qualquer momento, se transformar no avesso.
Sem Medo ou Expectativas.


Esyath Barret