segunda-feira, abril 14, 2008

A CÓLERA QUE FICOU - FINAL.

"Quem és tu?
O reflexo do que queres ver?
Ou o reflexo daquilo que não vês?"
(Esyath Barret)
cólera
A Adriana, irmã do meu ranzinza predileto, o David, propôs um desafio literário coletivo, onde cada um deveria escrever uma parte do conto, que foi dividido assim: A Adriana iniciou a história, em seguida o David furando a fila, continuou a narrativa, o Marcos escreveu a terceira parte e eu trouxe um fim romântico à história. – risos – Quem quiser se divertir acompanhando a pequenina saga poderá seguir a ordem acima indicada, clicando no nome dos meus parceiros e lendo o The End aqui embaixo.
Só pra constar: todos os comentários dos contos da Boneca Inflável foram respondidos, bem como, os do post anterior, sobre o encontro casual em um bar, que acabou na cama, ou melhor, em um ônibus. – risos.
cólera
"O que havia sido mais ridículo? Se embebedar por conta daquela mulher ingrata e da nova vida de desempregado ou ter sido encontrado dentro de um banheiro público dormindo, todo amarrotado, por um vendedor ambulante de jornal? Pelo menos tinha chegado em casa, sem ninguém mais testemunhar seu estado miserável, então se afundou na cama até aquela hora. Mas pra ser honesto, seu desemprego não o tinha levado a beber. Mas, sim, aquela merda de nostalgia que vinha sentindo.
Havia sido difícil! Se fosse honesto consigo mesmo, havia sido terrível se dar conta de que tudo aquilo com que não se importava antes, agora lhe fazia uma falta infeliz. Mesmo as duas garrafas de whiskey que esvaziara no dia anterior, e que agora lhe custava uma dor de cabeça de estourar os miolos, não o haviam convencido de que não precisava de sua família.
Família é uma palavra que agora lhe dava vontade de chorar e que antes não significava quase nada. Mas é que ver aquela menina chorando o tempo todo era bem irritante, e pra piorar, a sua mulher, na verdade, uma bela ex, não lhe dava mais atenção... Mas também era bom quando a pequena vinha correndo na sua direção para perguntar algo ou para mostrar um desenho que tinha feito, como se ele fosse um herói.
“É foda!” Ele pensou. Não podia mais negar, ele as amava. E pra piorar ela estava grávida de novo! Por que logo agora que estava esperando outra criança ela tinha ido embora? Por que as mulheres não entendem que o lugar delas é em casa, principalmente quando estão grávidas? Ela precisava voltar pra casa por conta das crianças. Essa seria a única razão! A campainha tocou e ele irritado e xingando até a mãe do vizinho, foi a abrir a droga da porta:
- Quem é?
- Sou eu Eduardo.
O que ela podia querer dele aparecendo na casa que agora era só dele àquela hora? Era muito cedo! Se bem que quando olhou no relógio de pulso, já passava das duas da tarde. Mas agora que ele era um desempregado, largado pela esposa magoada, ele podia ficar em casa dormindo, sempre que quisesse, oras. A campainha tocou novamente e ela perguntou se ele não abriria. De má-vontade, cedeu ao impulso quase infantil de deixá-la do lado de fora, mas resolveu abrir a porta.
Fernanda quando o viu, não escondeu o espanto de vê-lo tão mal. Era bem provável que sua cara amarrotada o estivesse denunciando. Sem muito interesse ela perguntou como ele estava.
- Pergunta idiota, Fernanda! Não vê como estou ótimo!?
- Eu vim aqui buscar umas roupas pra Duda.
Fernanda entrou na casa e ele percebeu que ela parecia chocada com a zona que via, pegou as roupas da pequena e, quando ia saindo, ele ainda estava na porta, em pé, com aquela cara de bêbado imprestável.
- Com licença!
- A porta da rua é a serventia da casa! – ele resmungou, fazendo uma mesura irônica pra ela passar.
Enquanto a ex-esposa passou por ele, foi agarrada pelo braço e puxada pra dentro da casa. Ele fechou a porta com um chute e a prendeu na porta, prensando-a com o próprio corpo. Então disse:
- Fernanda, por favor.
- O quê?
- Não vá, não me deixe.
- Por quê?
- Porque lugar de mulher grávida é em casa.
- Como você descobriu?
- Do mesmo modo que você descobriu sobre Soraia. Vasculhando.
- Eu não vasculhei suas coisas.
- Eu também não te vasculhei. Na verdade achei no chão o resultado do exame, no mesmo dia em que você me abandonou.
- Não vou ficar porque temos filhos juntos Eduardo. Mesmo separados, continuaremos sendo os pais deles.
- Então fique por mim! – Como era difícil implorar! Mas ele não agüentava mais chegar em casa e não vê-la, mesmo que reclamando!
- Por quê?
- Porque eu levei aquela vagabunda da Soraia pra cama, pois você não me dava atenção. Isso nunca mais se repetirá. Eu sei que não foi certo. Mas eu te amo, Nanda. Por favor!
- Que demora...
- Como assim?
- Pensei que você nunca mais fosse repetir que me amava. Eu também te amo, Edu. Mas a cada dia você se afastava mais de mim, não queria entender que eu e a Duda precisávamos de você. Eu fico se você me prometer não nos abandonar mais, não nos dar as costas novamente.
- Eu prometo, Nanda. Eu prometo!E assim, ele agarrou a mulher e mesmo grávida, a levou pra cama. Como tinha sido difícil ficar longe dela, muito mais do que ter coragem de assumir que realmente sentia falta dela e da pequena filha. Sua família."
The End.