domingo, fevereiro 12, 2012

ESTRANHOS - PARTE I

“O tempo passa e você percebe que as pessoas mudam. Ou nunca foram quem pareciam ser, ou simplesmente, já não querem mais ser quem realmente são... Ainda assim, os laços que nos unem nunca serão rompidos. Podem ser esquecidos, mas jamais destruídos. Estarão sempre presentes.”

(Esyath Barret)

Brasil, Paraíba, João Pessoa, Miramar, Edifício Palace Kingdom, Apartamento 305.

08 de fevereiro de 2012 às 19:30hs.

- Como você entrou no meu apartamento? Isso é crime sabia? – Perguntou a loura levemente irritada, levantando-se do sofá para demonstrar que não estava propensa a muita conversação.

Completamente relaxada, a ruiva subiu e desceu os ombros demonstrando que fazia pouco caso da mulher a sua frente, e se é que era possível, espojou-se ainda mais no sofá da pequena sala, levantando os pés que calçavam botas de cano longo e os pousando no centro de vidro. Olhando de um lado para o outro, mordeu os lábios de forma pensativa e disse:

- Essa sala é muito sufocante, você não acha Carol?

Suspirando impacientemente, Carol Silva circundou o sofá e parou em frente à sua visita, de modo ameaçador. Seus olhos negros como carvão eram herança de sua finada mãe e como seu pai sempre gostara de dizer... pareciam perigosos quando ela se enfurecia. A ruiva ou fingia que não pressentia a ameaça ou era completamente idiota para não sentir-se em apuros, diante daquela garota que media quase 1,80m de altura e que estava diante dela.

- Laura, ou você me diz por bem, ou arrancarei de você a resposta na base da pancada.

Batendo palma e sorrindo largamente, a ruiva espevitada apenas disse:

- Desde quando você se veste assim... tão mulherzinha Carol? Esse vestido branco com cara de anjinho de igreja foi escolhido por você ou aquele imbecil do seu pai determinou mais uma vez o que você deve vestir?

Carol não se importou naquele momento, que seu cabelo louro que lhe dera tanto trabalho para ficar preso no coque francês, se desprendesse ou assanhasse. Suas mãos longas apenas se projetaram para a lapela da jaqueta de Laura Lins de forma automática, com a óbvia intenção de levantar a garota à força do seu sofá. Em nenhum momento ela percebeu que aquela havia sido exatamente a intenção da ruiva, nem viu quando a garota deu um sorriso cínico quando percebeu que atingira seu objetivo e o principal... não antecipou o movimento da adversária.

Sorrateiramente, quando Carol se curvou para pegar seu casaco, o pé direito de Laura voou na perna da loura, e a mesma caiu em seu colo automaticamente, como um saco de batata. Então ela forçou seus cotovelos na base da coluna da garota, lhe causando dor e impedindo qualquer movimento seu.

Depois de espernear alguns minutos, a jovem viu que estava em desvantagem e aquietou-se. Provocando ainda mais, Laura disse:

- Eu não sei como você pode contentar-se em morar nesta droga de apartamento, depois de ter crescido em uma casa tão grande quanto a de vóvó.

- Está doendo. Pare de pressionar minha coluna! E o que você veio fazer aqui além de me irritar, machucar e criticar minha casa?

- Desde quando você é tão sensível a críticas Carol?

Ouvindo sua vítima murmurar um palavrão, disse:

- Agora sim está demonstrando ser quem é. E não esta beata de igreja que está parecendo com essa roupa.

Depois de ouvir outro palavrão, decidiu que já tinha ido longe demais com as provocações. Afinal, já havia conseguido se impor. Então, parou de pressionar sua coluna e a empurrou para o chão. Feito isto, levantou-se do sofá e dirigiu-se para o espelho, para checar seu reflexo. Seus cabelos vermelhos como o fogo e que faziam inveja a muita gente, pela cor totalmente natural, estavam presos em uma trança que descia ao longo de sua cintura. A franja estava presa com pedrinhas brilhosas coladas no cabelo, um dos poucos excessos femininos a que se permitia. De resto, tudo em si era completamente básico. Do jeans claro que vestia no casaco e na calça à blusa preta de manguinha curta. Até suas botas negras eram discretas. Não que ela precisasse de muita coisa para se destacar, afinal aqueles olhos verdes de gato, puxadinhos, por si só já impressionavam muita gente. Sua pele branca de porcelana, que não tinha uma única sarda, característica típica de brancos e de ruivos principalmente, parecia ter um brilho especial. Seu nariz pequeno e arrebitado era algo que lhe dava um ar aristocrático, embora a irritasse. E sua boca apesar de ter um tamanho bem mediano, era carnuda e o melhor de tudo, totalmente rosada, como se estivesse sempre de batom. Em resumo, ela mais parecia um desenho de photoshop, do que um ser humano de carne e osso. Sorrindo para si mesma, lembrou-se do comentário de sua avó quando disse certa feita:

“- Você é igualzinha ao seu pai. Parece uma fada. Nunca LL, você vai poder saber como é totalmente igual ao seu pai. Até no temperamento.”

Apesar de distraída, parou para notar o reflexo de Carol atrás de si. Ela parecia outra pessoa. Os cabelos sempre soltos e rebeldes estavam presos, em um coque, que escondia parcamente o louro radiante que nascia na raiz do cabelo e ia até as pontas. Seu rosto outrora sempre pintado, não trazia um mísero vestígio de maquiagem, e fora seus olhos grandes e negros, que chispavam de raiva naquele momento, nada em sua prima dizia que ela... era quem sempre fora. Estava pálida, apagada, sem vida. O que teria lhe acontecido? E que roupa esquisita era aquela? Um vestido esquálido, com manga, sem decote, que terminava na altura do joelho. E desde quando ela usava sandálias rasteiras de couro? Teve que parar de conjecturas e abaixar-se, porque a garota atirou nela um jarro, que se espatifou no espelho.

- Ei, sem violência, tá?

- Você foi quem começou!

Levantando-se rapidamente, olhou para a prima e disse:

- Vai me escutar com calma ou vou ter que te dar outra lição?

Suspirando, a anfitriã decidiu que era melhor escutar o que sua prima tinha para falar, ou ela não iria embora. Então, sentou-se no sofá e fez um gesto para que a sua quase vítima de um ataque de fúria ficasse a vontade e começasse a falar.

Laura ficou tensa, seu ar brincalhão havia sido substituído por uma máscara de seriedade, quando ansiosa, olhou nos olhos furiosos de Carol e disse:

- Eu vim aqui porque descobri que nossos pais estão vivos!

Continua...

8 Comments:

  • At 9:37 PM, Blogger Musa said…

    Curiosissíma para saber o restante...

    Não demora de postar tá...

    A narrativa está bem interessante, prende o leitor...

    Um abraço,

     
  • At 9:52 PM, Blogger Esyath said…

    Gracias Musa.

    É ficção. Então não tem nada de muito profundo... pelo menos não no primeiro momento. É pura distração mesmo.

    Beijos (Des)conexos!
    Esy

     
  • At 1:36 AM, Blogger Alexandre Lucio Fernandes said…

    Bom! Bom!
    Minha escritora preferida... hehe!

    =D

     
  • At 10:12 AM, Blogger Elcio Tuiribepi said…

    Olá...obrigado pelas palavras lá no Verseiro, ando meio enrolado, mas to por aqui lendo seu conto...todo esse mistério e suspense, cheguei a achar que era a mãe dela...rs...sei lá...só uma impressão

    Quanto ao afogar a razão...só mesmo uma expresão poética, mas que pode com certeza ser cumprida, apesar das consequencias que voce citou serrem reais...

    Um abraço na alma...bom carnaval...bom feriado

    Bjo

     
  • At 12:32 PM, Blogger Esyath said…

    Elcio,

    você achou que era a mãe dela? - risos.
    Curioso. Bom, o bacana de uma leitura é que em cada leitor ela sempre desperta uma impressão diferente...

    Quanto aos seus versos... concordo... pode sim ser cumprida... apesar das dificuldades.

    Espero que tenha um ótimo carnaval.

    Abraços (Des)conexos!

     
  • At 1:39 PM, Blogger Ruby said…

    As pessoas mudam com o tempo e a distância. Dói.

     
  • At 1:48 PM, Blogger Esyath said…

    Ruby,

    dói quando mudam conosco... Mas se nós também não houvéssemos mudado... seríamos quem somos? Seríamos felizes? Por acaso não seríamos mais... incompletos?

    Beijos (Des)conexos!

     
  • At 8:06 PM, Blogger :.tossan® said…

    Um texto de primeira! Assim vai valer a pena ler a continuação. Abraço

     

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