domingo, fevereiro 24, 2008

A UNIÃO E O AFETO LEVAM TEMPO...

"E vencendo as dificuldades,
vencemos as nós mesmos,
e compreendemos,
que precisamos da outra pessoa,
para vencermos e amarmos."
(Esyath Barret)

Para quem não se recorda, este é o quinto capítulo do conto que narra a história de vida de Lumã e de Marcela. O menino se tornou órfão muito cedo, testemunhando a morte brutal dos pais que foi narrada no primeiro capítulo, sendo obrigado então, a sair de seu lar e deixar tudo o que havia conhecido e amado a vida inteira numa fazenda para ir morar com Marcela, uma jovem egocêntrica e superficial, que tem uma natureza boa que procura ignorar, mostrando ao mundo apenas o quanto é destemida, cínica, irresponsável e irônica, porém vê a sua vida de pernas pro ar, quando é obrigada a cuidar do menino, pois é sua parente mais próxima viva, tendo herdado a tutela dele deixada em testamento por seu falecido irmão. Marcela foge do amor como Lúcifer da Cruz, mas aos poucos começa a perceber que é capaz de amar e de com isso ser feliz e sofrer ao mesmo tempo... ninguém pode passar a vida toda fugindo de si mesmo, por mais duro e mesquinho que seja... Essa é a lição da jovem descuidada, que aos poucos vai permitindo que o sobrinho e Victor, um novo personagem que entrou na trama no capítulo passado, ponham o seu controle de pernas pro ar...
A trama vem sendo narrada pelos dois protagonistas, ora na ótica de Marcela, ora na visão de Lumã... que aliás é quem fala agora...

Os capítulos anteriores podem ser lidos seguindo a ordem indicada do post abaixo deste...

Minas Gerais, Belo Horizonte, 20 de agosto de 1999.

“Desde que conheci Tio Victor no supermercado, percebi que a minha Tia Marcela mudou. Ela agora anda cada vez mais zangada, mas também tem me dado mais atenção, acho que principalmente porque não gosta de ver meu tio sozinho comigo, então, geralmente estamos os três juntos. Ele me disse para chamá-lo de Tio, porque isso seria ainda melhor para nós do que se fôssemos apenas amigos. Eu não sei como ele pode ser meu tio, se nem é casado com minha tia, nem é irmão dela. Mas eu gosto dele assim mesmo, quase do mesmo jeito que gosto de Mama. Aliás, eu acho que eles deviam se casar, assim seríamos uma família só e ele seria meu tio de verdade. Tieta diz que é bom um homem nessa casa para proteger minha tia e botar juízo nela, mas eu respondi a ela que isso é desnecessário, porque eu sou o homem da casa e, além disso, Mike Tysson me ajuda a cuidar de titia. Claro que quando o apresentei a Tieta ela endoidou como toda mulher que conhece meu amigo, então subiu no sofá e começou a gritar, me mandando matar aquela ratazana. Eu já expliquei a ela que ele é um ratinho e não uma ratazana, além disso, é meu amigo, mas não adianta, Mike sempre arrasa o coração das mulheres! Tieta só prometeu não contar a Mama que Mike Tysson mora aqui conosco, se eu o guardasse na gaiola ou no bolso longe de todo mundo, mas de vez em quando assustasse Alexandre, o sócio da minha tia, com ele!
Minha tia voltou a trabalhar no escritório e sempre me leva junto, porque Tieta disse que eu era responsabilidade da minha tia, de modo que nem adiantava minha tia pedir a ela pra cuidar de mim, pois ela não faria isso. O escritório é enorme, mas só tem gente chata e séria. Tem também um monte de computadores, mas eu não posso mexer em nenhum! Conheci Jairo, o assistente da minha tia. Ele é bem sério e com aqueles óculos fica parecendo meu antigo professor de matemática, mas ele é legal e além de me dar biscoitos de chocolate, sempre me dá figurinhas dos jogadores do flamengo, para eu completar meu álbum.
Na maior parte do dia, eu fico na sala de Tia Marcela, pois ela instalou um videogame numa televisão enorme para eu ficar jogando, mas também me manda ler livros, pois não quer que eu que me torne ignorante, como ela mesma diz. Mas o livro que mais gostei foi do dicionário, porque assim eu procuro o significado das palavras estranhas que ela vive falando.
Mas de quem eu menos gosto lá é de Alexandre, o sócio da minha tia. Ele é tão alto quanto Tio Victor, mas é muito sério e me olha de um jeito estranho. E também fica sempre olhando as pernas das mulheres, inclusive numa sexta-feira, minha tia foi pra lá de vestido e eu o peguei olhando as pernas dela. Dei um chute na canela dele e mandei ele ir comer capim! Quando ele tentou me bater, eu saí correndo pelo corredor e me escondi atrás de Jairo, que se levantou imediatamente, fazendo ele parar e desistir de bater em mim, então aproveitei que Jairo não estava vendo, e fiquei atrás dele, dando a língua pra o metido do Alexandre.
Quase toda tarde, Tio Victor vai lá me buscar para jogarmos futebol ou nadarmos, então, um dia desses entramos no elevador e o sócio de Mama também estava lá e olhando pro meu tio perguntou:
- Bancando a babá Victor?
- Não, vou jogar futebol com meu amiguinho! E você? Ainda fingindo que trabalha?
- Eu preciso me esforçar, você sabe! Mas ao menos eu finjo bem... e você? Parece que agora vive apenas de flanar, não é?
- Alex, enricar sem roubar não é para quem quer! É para quem pode... Por isso posso me dar ao luxo de tirar férias...
Alexandre ficou vermelho, fechou as mãos e saiu no térreo pisando duro sem olhar para trás. Por um momento pensei que ele fosse bater no meu tio...”

Continua...