UM NATAL FORÇADO! - PARTE II
Assim, seguindo um raciocínio próprio,
tudo resolve... mesmo quando o homem, tolo que é,
como uma criança mimada não lhe dá ouvidos.
(Esyath Barret)
“Andy Mcallen havia sido convidado para a ceia de natal dos Gouveia pela própria Gigi, matriarca da família. Era público e notório que mesmo após a grande decepção amorosa que havia sofrido com a neta golpista da boa senhora, ainda dedicava à família da ex um grande afeto, principalmente porque quando chegou ao Brasil, sem conhecidos, amigos ou família, foram os Gouveia que lhe acolheram. Não apenas lhe vendendo a empresa, mas apresentando-o à sociedade para que seu negócio progredisse com os bons contatos da família.
Gigi era a fundadora de uma empresa de borracha, e quando envelheceu nenhum de seus dois filhos quis continuar no negócio. O mais velho era Gourmet e tinha um restaurante próprio e a filha vivia apenas de ser uma viúva Socielite que sobrevivia da pensão do falecido e das mesadas que a mãe lhe dava.
Então, apesar da dor de ser forçada a vender a Borrach´s G, a boa senhora ficou contente em saber que seria a alguém que amava administrar, que tinha talento para a coisa e que estava disposto a seguir algumas de suas orientações sábias, aprendidas após anos no ramo. E quando ela adoeceu, ele fez questão de custear todo o seu tratamento, para que não lhe faltasse nada, pois havia aprendido a amá-la como a uma mãe. Por sorte ela estava se recuperando e seu câncer estava em remissão. O que ele não entendia é porque Débora após tanto tempo havia decidido voltar, ainda mais após ter jurado nunca mais lhe dirigir um mísero olhar, quando diante dos tribunais tentou arrancar-lhe até o último centavo possível.
- Quem quer o peito do peru?
- Eu aceito! – Disseram ao mesmo tempo Andy e Debbie, já com seus pratos levantados.
Na mesma hora baixaram os pratos quando se deram conta de que haviam repetido a mesma cena de tantos anos atrás. Gigi olhou para ambos com um sorriso maledicente no rosto, mas não esperava o que aconteceu...
- Pode ficar Débora.
- Eu não quero mais, obrigada.
- Mas eu faço questão, afinal você sempre quer o que for melhor não é?
- Acho que é o desejo de qualquer um Andy. Mas não gosto de tomar aquilo que não é meu de verdade!
- Mas Débora, nós sabemos que você nunca se incomodou em abrir mão da parte mais cara de algo! – Enquanto retrucava, ele pensou em como ela havia conseguido em uma frase dar ao seu nome o sentido de uma ofensa. Deve ter sido o tom empregado... A televisão a estava perdendo...
- Nem sempre o mais caro é aquilo que se pensa que é Andy.
- Então você acha que o peito do peru que é o mais visado em qualquer jantar nem sempre é o mais caro?
- Não nem sempre! Para ser franca o peito sem o resto não é nada! De nada adianta ter um peito caríssimo e valioso se o resto do Peru não presta!
- Mas o resto não seria nada sem o peito!
- Nisso eu concordo, por isso algumas pessoas visam apenas o peito. Mas a verdade é que aprendi que se o peito é desejado por muitas pessoas, então se deve apenas arrancá-lo do peito para que ninguém coma e não haja brigas.
- Isso quer dizer que você é a favor do desmembramento do peru e que o principal seja jogado fora?
- Claro, porque aí sim se saberá se a pessoa realmente estava com fome. Se for capaz de comer qualquer outro pedaço. Do contrário, se saberá que não passava de capricho.
Se precisa dizer que todos na mesa acompanhavam a discussão boquiabertos? Era necessário dizer que a conversa ali ultrapassava e muito o peru e que ambos estavam alterados e praticamente gritando?
Então de repente Debbie se levantou da mesa e pediu licença a todos. Entrou na biblioteca do apartamento e só percebeu que havia sido seguida quando na tentativa de jogar no chão o abajour, alguém lhe impediu, segurando com força a sua mão.”
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Como sempre quero agradecer as visitas e a leitura que fazem dos meus textos. É muito importante contar com a companhia de vocês aqui no blog. Vocês nem imaginam. Espero poder contar sempre com seus comentários. Bons ou negativos, sempre são construtivos e me ajudam a pensar melhor sobre o que posto e sobre a vida... Essa história é a continuação da postagem anterior... São três capítulos... Não é surreal, talvez os diálogos até pareçam um pouco ensaiados, mas a verdade é que muitas das nossas histórias pessoais parecem ter chegado ao fim, quando na verdade estão apenas no intervalo de um segundo ato... É preciso ponderar porque discutimos tanto e o que nos impede de ouvirmos de verdade quem amamos e de sermos escutados! É preciso haver um pouco de compreensão e diálogo sempre... Sempre vale a pena insistir um pouco mais no que acreditamos... A questão é: desistimos por descrédito ou por orgulho?
Beijos (Des)conexos!
PS.: Estou atualizando as visitas... Juro! :D