segunda-feira, março 31, 2008

MICROCONTO - HOMENAGEM A LOBA E AO MEU GURU: MARCOS, UM ESCULACHO DE SIMPATIA

" Pedaços de ti,
a mim se misturam.
Na busca da vida,
amor
ao seu modo
todos procuram."
(Esyath Barret)
INVASÃO
Era difícil manter-se nas sombras, mas para conseguir seu intento, o esforço valeria a pena. Os olhos castanhos que proclamavam mistério estavam ávidos para cumprir logo sua missão. A roupa negra, quando misturada à escuridão da noite impedia que alguém lhe percebesse, pois propositalmente se esgueirava no corredor pelas sombras como um gatuno, porém sua necessidade de chegar ao andar superior da casa era tão brutal, que seria capaz de lutar com qualquer um que se metesse no seu caminho, entretanto, conseguiu chegar ao andar superior sem maiores dificuldades. Contudo, ouviu passos no corredor, obrigando-se a colar o corpo na parede, prendendo a respiração. Temia se denunciar, até mesmo com o som natural do ar inundando seus pulmões, quando o inspirava, ou com o som que produzia quando o expirava. O medo logo fugiu, quando as pessoas que estavam no corredor foram embora. Então, subiu silenciosamente e chegou à porta estreita e branca que procurava, e como supôs, ela estava trancada. Tirou, então, do bolso a cópia da chave que no dia anterior havia mandado fazer, inseriu na fechadura e com muita sutileza girou a chave. O som da porta sendo destrancada soou aos seus ouvidos como uma marcha de vitória, lhe possibilitando a ousadia de relaxar um pouco e entrou logo no quarto, antes que mais alguém surgisse no seu caminho. Percebeu que a cama de casal estava vazia, com os lençóis revirados como se alguém tivesse rolado na cama e não tivesse conseguido dormir. Notou então que as portas duplas que davam para uma varanda estavam abertas, permitindo assim a entrada de um ar frio que refrescava o ambiente. Deu um passo na direção da porta, e mais outro, então, voilà, encontrou o seu alvo debruçado no espaldar da varanda, sendo iluminado apenas pelo brilho lunar. Ele parecia calmo, mas quando se voltou para enfrentar quem invadia seu sossego, demonstrou um leve ar de surpresa, quando entendeu quem era o intruso que estava dentro do seu quarto.
- O que você procura? – Ele perguntou ao invasor.
- O mesmo que você procura aí fora.
- E o que seria? – Ele indagou severamente.
Dando alguns passos, alcançou o seu alvo na varanda, quando estava com o rosto a poucos centímetros do homem na varanda, compartilhou da luz frágil que o iluminava, tendo o seu rosto também banhado pela claridade, revelando uma pele alva, cabelos louros como o sol e traços delicados em um rosto sorridente, respondeu em um sussurro:
- Amor!

quinta-feira, março 20, 2008

AMIZADE É O AMOR MAIS SÁBIO QUE EXISTE.

“Minha palma te toca,
minha boca te encanta.
A amizade nos transforma,
juntos seremos sempre:
os melhores amigos.”

(Esyath Barret)
AMIZADE É UM RARO PRESENTE.
O próximo post será a continuação do romance que venho escrevendo, contando a história de Lumã e de Marcela. Estou tentando organizar em um espaço mais apropriado a história, para que os novos leitores possam acompanhar a trama toda com a mesma coerência com que os meus fiéis e mais antigos amigos leitores o fazem. Aproveito este momento, para agradecer todos os comentários do post abaixo, onde foi narrado o desencontro amoroso de um casal controvertido e cheio de diferenças, que se afastou definitivamente recentemente. Ambos seguem seus caminhos em direções opostas. Mas os comentários me fizeram ponderar e aprender um pouco mais, por isso, agradeço as palavras de apoio, admiração, encorajamento, ou de crítica. Todos os comentários sem exceção foram respondidos, de modo, que peço que abram a caixa da haloscan e vejam as respostas, dedicadas a cada um de vocês. E afirmo sem medo ou despeito a todos vocês, inclusive a você meu amigo Calebe, que andou preocupado com meu estado emocional recentemente, que estou bem e liberta de qualquer sentimento triste ou nostálgico que me prendia ao passado. Estou aproveitando bem a minha liberdade não apenas de estado civil, mas da alma, para seguir adiante e descobrir novos destinos.

Com Carinho.


Esyath Barret, um Espírito Indomado.
poema
A PRIMEIRA VEZ

Apertei os olhos
e senti a água tocar minha pele.
E na dança muda
que a carícia íntima da lágrima
fez no meu rosto,
me senti mais violada
do que se houvesse sido roubada.
E o substantivo se formou:
AMOR

Esyath Barret

domingo, março 02, 2008

QUEM É O TAL DO AMOR?

“O amor pode dominar, mas jamais obrigar-te a me domar.”
(Esyath Barret)
amor
Essa semana estou afastando Lumã e Marcela um pouco do nosso convívio, mas em breve o desenrolar da vida deles voltará a se destacar nessa página... O novo post está enorme, mas é um caso verídico de um amor cheio de desencontros... Apenas os pacientes e curiosos, realmente se encorajarão a ler...
Muitos já ouviram falar do lendário casal que Shakespeare idealizou, Catarina e Petruchio, protagonistas da famosa obra “A Megera Domada”, o que ninguém sabe é que realmente séculos depois esses personagens viriam a existir e a se encontrar por brincadeira do destino, e como na obra, se desentenderam, mas como na vida as pessoas são humanas e tomam suas próprias decisões, sendo responsáveis pelo rumo dos seus amores e desamores, infelizmente eles acabaram realmente se afastando. Mesmo se amando, viviam a brigar, e mesmo brigando, viviam a se amar. Mas um dia tudo tem um fim, e por mais doloroso que tenha sido para ambos, saberem que seu conto de amor não seria feliz como na obra, mesmo podendo ter sido, ambos se despediram, cada um a sua maneira... Petruchio disse o que queria, mas logo esqueceu Catarina... Catarina pensou esquecer Petruchio, mas apenas quando começou a encarar a verdade de frente e foi capaz de dizer o que queria, começou a realmente esquecer...
um dia eu quis amar... e só encontrei a dor...
João Pessoa, 20 de fevereiro de 2008.


Petruchio,


você se enganou, não fui presa em um chiqueiro, mas jogada a um mundo humano cheio de subúrbios, onde as pessoas nos fazem sorrir e chorar ao mesmo tempo. É verdade que às vezes tenho ganas de bater e ofender, principalmente quando não consigo me fazer ser compreendida pelas pessoas de um modo geral, mas, sobretudo por aqueles a quem amo, mas também sou um ser humano com fragilidades e carências, que acaba precisando ver e tocar para saber que o que traz alegria e tristeza é real e não fruto de sua própria imaginação. Entretanto, sendo honesta, confesso que nem sempre essa medida aplaca minha insegurança, pois o coração, tolo que é, muitas vezes duvida da própria existência, mesmo sendo o responsável pelo próprio palpitar, o que dizer então de verdades que ultrapassam o meu controle? Mas essa é uma daquelas guerras internas que existem com a finalidade de transformar o guerreiro em um herói destemido e forte, capaz de conhecer e vencer a si mesmo, sabe?
Mas de uma coisa, estou certa, Shakespeare era um idealista, por isso supôs que o próton e o elétron pudessem acabar juntos, mas o mais provável é que eles terminem acabando um com o outro. Quando somos jovens acreditamos sermos os donos da razão, tendo certeza dentro de nossa auto-suficiência de que apenas as nossas opiniões importam e que são mais verdadeiras que as alheias. Com a experiência, sempre vem a dura lição, de que tanto Shakespeare quanto nós, os jovens, estávamos errados. Divergências muitas vezes mais afastam do que aproximam as pessoas. E o amor, para se consolidar tem que ultrapassar a maior das dificuldades: o ser humano e sua incapacidade de ser solidário e generoso.
Amar é impor franqueza, esquecer as mesquinhezas, abandonar as provocações, apresentar pontos de vista civilizadamente, sabendo o momento de parar de falar para passar a ouvir, semear a amizade e estar sempre presente na vida do ser amado. É saber ceder, compreender o momento de recuar e de abrir mão de nossas vontades pessoais, sendo compensados com um sorriso de felicidade ou ouvindo expressões de gratidão. É entender a necessidade de se colocar no lugar da pessoa e refletir sobre como reagiríamos em situação semelhante. É assimilar o significado de solidariedade e generosidade.
É por isso que amar verdadeiramente é tão difícil, pois é como se as pessoas acalentassem em si apenas fragmentos, pequenas demonstrações do que realmente pode vir a ser o amor. E tolo é aquele que julga o amor ser apenas fonte de prazer e felicidades, porque ele também traz de bônus a dor, a raiva, a ingratidão, a incompreensão, mas a maneira como cada um lida com isso é que nos torna capazes de amar ou não. Mais tolice ainda é crer que o amor sofrido é maior e mais digno que todos os outros. O amor é um só, o ser humano é que não é.
E os jovens com o tempo aprendem que precisar de outra pessoa para seguir adiante não é tão difícil quanto parece e nem nos torna fracos, bem como, que mudar de opinião é plenamente normal e aceitável.
Eu, Catarina, sei que sou difícil, sei que não sou uma Lady recatada como você apreciaria que eu fosse, e sinto que jamais serei domada. Existe uma intensidade dentro de mim que me faz sentir com mais força e calor esses sentimentos e idéias do que pode vir a acontecer com a maioria das pessoas, e isso muitas vezes me confunde e me faz perder o controle, mas jamais me faz ser uma traidora da minha própria consciência. Mas isso também me faz concluir que o que senti são pequenas partes fortes de um amor que teria sido grandioso, se ambos não tivéssemos agido tão impulsiva e intempestivamente.
Creio que o amor verdadeiro ainda baterá na minha porta quando eu aprender a confiar na minha segurança, e na minha própria capacidade de ceder, impor e acreditar no ser amado, no momento certo. Mas tudo tem uma razão de ser, não acho que Romeu e Julieta precisavam morrer no final, mas de que lhes serviria uma vida longa e saudável se não soubessem ser capazes de fazerem suas próprias escolhas, cedendo e impondo, vencendo as próprias divergências e preconceitos? Admitindo que o amor era mais importante que qualquer outra coisa?
Do mesmo modo, que graça teria termos vivido sem nos esbarrarmos e termos aceitado que somos capazes de desejar sermos completados com o que nos falta, com o que é diferente de nós? Porque se fôssemos iguais, será que realmente teríamos nos apaixonado? No fundo eu quis tê-lo ao meu lado justamente por cobiçar suas características, por admirá-las em você, por mais que elas possam ter nos afastado quando não as compreendi e vice-versa.
Mas não é apenas isso, é preciso ponderar a transponibilidade das barreiras. O que exige de pressuposto a confiança mútua. Quando não há, se resume a paixão, a parcelas de amor. Ainda assim, apesar de ter passado por aquele típico momento em que nos perguntamos a razão de nossas escolhas, sempre que um relacionamento chega ao fim, acredito que nosso envolvimento fez ambos aprendermos duras lições que durarão por muito tempo ainda.
Por muito tempo Petruchio, eu o desejei, cobicei, admirei. Por um longo tempo, você me fez conhecer o significado literal da paixão e seus transtornos. Um sentimento forte, ilógico e sedutor como o canto mitológico da sereia, que me fazia sentir vontade de estar ao seu lado indefinidamente, independentemente de qualquer razão lógica pessoal. Você me fez entender que por mais prática e autoritária que eu seja, sou capaz de amar e de sentir romantismos. Mas você também me ensinou a outra faceta dura da moeda, que isso pode trazer decepção, frustração, raiva, culpa, e a necessidade de desejar mais do que me era oferecido. Quando finalmente compreendi que você não estava disposto a acabar com as minhas desconfianças, que não estava disposto a ponderar no quanto suas escolhas me feriam e enlouqueciam, e que por mais que eu argumentasse nada mudaria, bem como, que você jamais perdoaria meus erros passados esquecendo-os, desisti de tentar ceder e de me colocar no seu lugar.
Então, a verdade caiu como um piano pesado na minha cabeça: o amor havia acabado. De ambos os lados, por ambas as partes. Quando mágoas e discordâncias superam a vontade da união, e isso começa a nos destruir, é porque o amor acabou. Talvez tenha sido covardia de minha parte culpá-lo, talvez tenha sido egoísmo de sua parte me culpar, pois no fundo, ambos erramos.
Mas no fim, o que acaba realmente importando é o The End e não quem é culpado ou deixa de ser. Tantas vezes eu desejei mudar e cheguei a rogar em meu íntimo que você viesse e me ajudasse, mas a verdade se instalou, e cruel que é, me mostrou que você não ultrapassaria seus próprios limites por mim, me fazendo enxergar que eu também não conseguiria fazer isso por você. Estávamos ambos sendo teimosos, querendo num duelo de vontades impormos nossas verdades e desejos, esquecendo realmente de nos importamos um com o outro.
As vezes amaldiçôo você por ter aparecido e me feito fugir da ilusão de que eu controlava meus sentimentos e minha vida com rédeas curtas, em outros momentos, sou grata a você por ter me mostrado que não sou tão dura quanto sempre supus. E apesar da curiosidade de saber como poderia ter sido, de como você está, de quem você realmente é, pois em nossa convivência acabei conhecendo apenas uma parcela de você, assim como sinto que você não me conheceu totalmente, concluo que tudo deve permanecer onde está: no passado.
Sei que você demonstra estar bem, provavelmente melhor sem mim, isso não me fere, porque quando amamos alguém, por muito ou pouco tempo, frágil ou intensamente, não importa, se o sentimento é verdadeiro, desejamos ver essa pessoa feliz, em paz, e saber que você supera ou já superou o que passamos me dá ânimo para seguir adiante e agir do mesmo modo.
Não sei se algum dia sentirei algo tão forte novamente por alguém, que é o mais próximo pelo que já passei do que deve ser o amor verdadeiro, mas também eu sou Catarina, e não vou perder tempo com divagações sobre o futuro, pois eu sou uma mulher que brada e não que filosofa, lembra? Talvez eu deseje no momento apenas segurança e previsibilidade e isso é algo que só poderei encontrar sozinha, naquela luta interna de que falei... na auto-superação... Homens sempre me aparecem, mas nenhum que me faça desejar despertar do sono da solidão e da minha própria consciência.

Com respeito e alívio me despeço.


Catarina, a Megera Indomada.