ESTRANHOS - PARTE II

"Foi dito por Deus: “Cuidado com teus desejos, pois podem se tornar realidade.”
E o homem, tolamente, assim mesmo, insistiu em desejar."
(Esyath Barret)
Brasil, Paraíba, João Pessoa, Centro, Avenida Walfredo Leal, Casa Abandonada, Sem Número.13 de fevereiro de 1988 às 13:00hs.
- Brincadeira tem limite!
- Isso não é uma brincadeira Anthony!
- O que é que pode ter de tão esquisito dentro de uma casa abandonada?
Observando o silêncio da loura impertinente que o encarava com um olhar negro cheio de seriedade, como se já previsse que o estava arrastando para um lugar perigoso e suspeito, Anthony Lins, passou a mão nos cabelos ruivos tentando acalmar os pensamentos, porém tudo o que fez foi bagunçar a cabeleira lisa. E falou:
- Fantasmas? Maconheiros? Cadáveres? Ei... quem sabe traficantes colombianos fugidos da Interpol?
Ana Silva arqueou a sobrancelha imaculadamente loura para o meio-irmão demorando alguns segundos para compreender que ele estava fazendo uma piada. Bom, ela nunca fora uma perita na arte de compreender bem o eterno ar debochado do seu irmão, mas adorava o temperamento dele, porque sempre lhe levava a sorrir, animando-a um pouco. Mas naquele momento, queria que lhe levasse a sério, pois tinha descoberto uma coisa realmente importante naquela casa... Colocando o dedo junto a boca, indicou que ele devia se calar. Puxando-o pela mão, colou-se na parede externa da casa, o que lhe causou arrepios, pois haviam trepadeiras grudadas na parede, deixando claro que a casa era sua hospedeira. Sabiam-se lá quantos insetos estavam escondidos na vegetação selvagem que dominava o ambiente. Devia ter até cobra por ali...
Quando chegaram na extremidade que dava para o quintal do terreno, começaram a escutar vozes, e um som preenchendo o ar. No começo lembrava um passarinho cantando, mas então o som começou a se transformar em um grasnido agudo e sofrido, que fez latejar seus ouvidos. O calor que até então deixara seus corpos pegajosos e suados, transformou-se em frio, a umidade do ar diminuiu e a dor nos tímpanos se tornou insuportável. Colocando as mãos nos ouvidos, ambos não conseguiam mais se concentrar em nada, até que repentinamente tudo parou e o silêncio se tornou sepulcral. Respirando com dificuldade, Ana deu-se conta de que havia sido um erro trazer o irmão ali, quando uma neblina os envolveu por alguns segundos, tocando seus corpos tensos, como um manto gelado e gasoso. O medo apossou-se de seu coração, lhe fazendo temer até mesmo piscar os olhos, e ela percebeu que algo estava errado. Por que tanto medo e aflição? Não era normal. De uma maneira estranha, ela olhou para Anthony e deu-se conta do ar apavorado encarando-a. Algo estava alterando a percepção e os sentimentos de ambos. Com muito esforço, pegou sua mão, e abaixando-se o arrastou para trás de um banco abandonado que havia do lado de uma árvore, um pouco adiante de onde estavam. Tentaram ficar escondidos, porém isso era algo praticamente impossível diante da altura de ambos que mediam 1,80m. Fazendo um sinal com a cabeça, a jovem mostrou ao irmão o que havia descoberto ali. O que os aguardava e sabia o tempo inteiro que estavam espiando... O que os fez desaparecer naquele instante...
Continua...