O INFELIZ DIA DO CASAMENTO!
Aquele realmente deveria ser o dia mais feliz de todos. Finalmente, após anos de dedicação extrema, lhe provando o quanto o amava, se provando o quanto ele realmente importava, na hora simplesmente de dizer sim, tudo o que ele soube vomitar foi um sonoro e pesado NÃO diante do velho padre.
Que tipo de pessoa espera chegar a Igreja, diante de uma platéia que foi convidada para ir ali celebrar ao amor e a felicidade dos noivos, para dizer que NÃO, NÃO ACEITA SE CASAR COM A NOIVA!?
Não, não é um cafajeste, um egoísta ou um traidor! É um covarde e eis que apresento a todos vocês, João Paulo Rodrigues.
Ele é um desses típicos sujeitos de classe média, trinta anos, bonito, saudável, viajado, engenheiro e meu ex-noivo. Nós namoramos por seis anos! Seis malditos anos! Ele não teve a decência de me pedir em casamento, eu, sim, num belo dia simplesmente o olhei e perguntei:
- Você pensa em se casar comigo João?
Todo dengoso e só sorrisos ele disse que sim, mas em seus olhos qualquer um podia ver a incerteza, afinal, se ele realmente quisesse, teria a iniciativa, mas tola que fui e iludida que estava, perguntei. Não apenas isso, mas também quando nos casaríamos, quando noivaríamos... E agora digo com pesar, não foi culpa dele que ele tenha me humilhado na frente dos nossos amigos, familiares e do padre, dizendo não. A culpa foi minha! Eu não devia tê-lo pressionado. Se afinal eu o amava tanto, por que a pressa? Quando amamos alguém, ficamos felizes apenas em estar ao seu lado, ninguém precisa de uma aliança no dedo para ter certeza de que está comprometido, ou de que tem uma família. Mas eu precisava saber... Se afinal ele queria ou não. A primeira pergunta deveria ter bastado. Eu não devia ter insistido, afinal, com a primeira pergunta já tinha deixado bem claro o que realmente esperava do nosso relacionamento. Mas insisti. E sei, já escutei milhares de vezes que a culpa não foi minha, que ele foi o canalha aqui... Mas no fundo, eu sei... Ele disse NÃO na hora “h”, porque eu insisti em só ouvir “SIM” durante todo este tempo....
“- O senhor aceita Fernanda Pontes como sua legítima esposa, para amá-la, respeitá-la e honrá-la na saúde, na doença, nas alegrias e nas tristezas até que a morte os separe?
Depois de alguns minutos tensos de silêncio ele disse:
- Não.
Houve murmúrios dentro da igreja, eu não tinha entendido direito a resposta dele e o padre repetiu a pergunta. E ele repetiu:
- Não!
Sorrindo como uma pessoa que sofre de retardo mental, eu perguntei:
- Como é que é João?
- Eu não posso Fernanda! Desculpa, mas não vai rolar...
- Não vai rolar? Não vai rolar? Isso é um casamento e não uma bola... Como assim não vai rolar?
- Eu não posso... Pensei que pudesse me casar com você, afinal já estamos juntos há cinco anos, e eu gosto de você, eu juro que gosto, e não estou tendo caso com mulher nenhuma, mas eu não posso... Eu não te amo mais...
- SÃO SEIS ANOS! SEIS MALDITOS ANOS!”
E foi assim. Seis anos jogados fora? Eu queria acreditar que não, afinal fui feliz enquanto estávamos juntos, mas eu não acho que as pessoas entrem um relacionamento tão longo quando não possuem o objetivo de construírem um futuro juntas.... Mas o futuro não é na verdade nosso presente atual? Não dá pra planejar sua vida pelos próximos dez anos, sempre pode surgir um imprevisto que destrói seus planos, então não planejar, não significa que você não esteja levando sua vida presente a sério, não significa que você não seja capaz de se comprometer... Significa apenas que você tem o senso de perceber que não dá pra saber como será seu amanhã, mas você pode saber como ele é hoje... Então, não, eu não joguei seis anos fora... Durante seis anos eu fui amada, desejada, querida, e senti o mesmo, mas o amor chegou ao fim.... Tudo tem seu momento.... Até mesmo o amor... O que não fui capaz de perdoar foi a humilhação.... Não a da rejeição, ser rejeitado te dá a impressão de que você é humilhado, porque vamos combinar, dói pacas saber que uma pessoa não te quer mais, mesmo quando é uma pessoa que você nem queria... Mas isso não é humilhante, é revigorante, porque te dá condição de sair e procurar aquele que realmente deverá te fazer feliz.... Mesmo que seja por apenas mais seis anos... Agora, ser rejeitada na frente de todo mundo, dentro da igreja, no momento da cerimônia de casamento? Isso é ultrajante... E sabe por que joguei seis anos fora? Porque ser exposta daquele modo, por aquele que devia zelar por mim mais do que qualquer outra pessoa, só provou que ele sequer manteve respeito por mim e por tudo o que vivemos após o fim do amor...