segunda-feira, maio 31, 2010

O INFELIZ DIA DO CASAMENTO!


"A união surge de várias formas.
Preto com Branco.
Rock com Samba.
Jovem com Velho.
Velho com Velho.
Todos com Sonhos.
O importante é que sempre,
sempre vale a pena."
(Esyath Barret)


Aquele realmente deveria ser o dia mais feliz de todos. Finalmente, após anos de dedicação extrema, lhe provando o quanto o amava, se provando o quanto ele realmente importava, na hora simplesmente de dizer sim, tudo o que ele soube vomitar foi um sonoro e pesado NÃO diante do velho padre.
Que tipo de pessoa espera chegar a Igreja, diante de uma platéia que foi convidada para ir ali celebrar ao amor e a felicidade dos noivos, para dizer que
NÃO, NÃO ACEITA SE CASAR COM A NOIVA!?
Não, não é um cafajeste, um egoísta ou um traidor! É um covarde e eis que apresento a todos vocês, João Paulo Rodrigues.
Ele é um desses típicos sujeitos de classe média, trinta anos, bonito, saudável, viajado, engenheiro e meu ex-noivo. Nós namoramos por seis anos! Seis malditos anos! Ele não teve a decência de me pedir em casamento, eu, sim, num belo dia simplesmente o olhei e perguntei:
- Você pensa em se casar comigo João?
Todo dengoso e só sorrisos ele disse que sim, mas em seus olhos qualquer um podia ver a incerteza, afinal, se ele realmente quisesse, teria a iniciativa, mas tola que fui e iludida que estava, perguntei. Não apenas isso, mas também quando nos casaríamos, quando noivaríamos... E agora digo com pesar, não foi culpa dele que ele tenha me humilhado na frente dos nossos amigos, familiares e do padre, dizendo não. A culpa foi minha! Eu não devia tê-lo pressionado. Se afinal eu o amava tanto, por que a pressa? Quando amamos alguém, ficamos felizes apenas em estar ao seu lado, ninguém precisa de uma aliança no dedo para ter certeza de que está comprometido, ou de que tem uma família. Mas eu precisava saber... Se afinal ele queria ou não. A primeira pergunta deveria ter bastado. Eu não devia ter insistido, afinal, com a primeira pergunta já tinha deixado bem claro o que realmente esperava do nosso relacionamento. Mas insisti. E sei, já escutei milhares de vezes que a culpa não foi minha, que ele foi o canalha aqui... Mas no fundo, eu sei... Ele disse NÃO na hora “h”, porque eu insisti em só ouvir “SIM” durante todo este tempo....

“- O senhor aceita Fernanda Pontes como sua legítima esposa, para amá-la, respeitá-la e honrá-la na saúde, na doença, nas alegrias e nas tristezas até que a morte os separe?
Depois de alguns minutos tensos de silêncio ele disse:
- Não.
Houve murmúrios dentro da igreja, eu não tinha entendido direito a resposta dele e o padre repetiu a pergunta. E ele repetiu:
- Não!
Sorrindo como uma pessoa que sofre de retardo mental, eu perguntei:
- Como é que é João?
- Eu não posso Fernanda! Desculpa, mas não vai rolar...
- Não vai rolar? Não vai rolar? Isso é um casamento e não uma bola... Como assim não vai rolar?
- Eu não posso... Pensei que pudesse me casar com você, afinal já estamos juntos há cinco anos, e eu gosto de você, eu juro que gosto, e não estou tendo caso com mulher nenhuma, mas eu não posso... Eu não te amo mais...
- SÃO SEIS ANOS! SEIS MALDITOS ANOS!”

E foi assim. Seis anos jogados fora? Eu queria acreditar que não, afinal fui feliz enquanto estávamos juntos, mas eu não acho que as pessoas entrem um relacionamento tão longo quando não possuem o objetivo de construírem um futuro juntas.... Mas o futuro não é na verdade nosso presente atual? Não dá pra planejar sua vida pelos próximos dez anos, sempre pode surgir um imprevisto que destrói seus planos, então não planejar, não significa que você não esteja levando sua vida presente a sério, não significa que você não seja capaz de se comprometer... Significa apenas que você tem o senso de perceber que não dá pra saber como será seu amanhã, mas você pode saber como ele é hoje... Então, não, eu não joguei seis anos fora... Durante seis anos eu fui amada, desejada, querida, e senti o mesmo, mas o amor chegou ao fim.... Tudo tem seu momento.... Até mesmo o amor... O que não fui capaz de perdoar foi a humilhação.... Não a da rejeição, ser rejeitado te dá a impressão de que você é humilhado, porque vamos combinar, dói pacas saber que uma pessoa não te quer mais, mesmo quando é uma pessoa que você nem queria... Mas isso não é humilhante, é revigorante, porque te dá condição de sair e procurar aquele que realmente deverá te fazer feliz.... Mesmo que seja por apenas mais seis anos... Agora, ser rejeitada na frente de todo mundo, dentro da igreja, no momento da cerimônia de casamento? Isso é ultrajante... E sabe por que joguei seis anos fora? Porque ser exposta daquele modo, por aquele que devia zelar por mim mais do que qualquer outra pessoa, só provou que ele sequer manteve respeito por mim e por tudo o que vivemos após o fim do amor...
The End.
____________________________________________________________________
Queridos amigos blogueiros, é com prazer que volto a postar mais uma História (Des)conexa... Aproveitando o mês dos enamorados, estou publicando uma história plausível e triste, mas plausível, afinal realmente tudo pode chegar ao fim... O que dói não é o fim, é o modo como termina... Sempre devíamos finalizar etapas com dignidade, mas nem sempre é o que acontece... O próximo será o inverso... começa de uma forma triste e termina esperançosa... E é com prazer também que digo que entrei para os Blogs de Quinta, e a partir deste momento sou uma Quinteira (Des)conexa... Em breve farei as indicações dos links deles na lateral do blog... Agradeço mais uma vez a todos as visitas e os comentários... É importante a opinião de vocês, pois me ajudam a melhorar minha visão não apenas sobre o que escrevo, mas sobre as circuntâncias da vida... Então, muito obrigada!
P.S.: Tentem comentar apenas na caixa de comentários do blogger.
Beijos (Des)conexos!
Esyath Barret

quinta-feira, maio 06, 2010

Quase louca, quase devassa, quase normal...

" Loucura, devassidão, lucidez, possuem
definições que dependem sempre do ponto-de-vista."
( Esyath Barret)

O dia em que achei que estava me tornando esquizofrênica ou devassa, era tão comum quanto qualquer outro... Quer dizer, eu simplesmente havia ido a padaria do Seu Soares, comprar pão francês fresco, depois voltei para casa, preparei o meu café-da-manhã e o da vóvó. Já tinha deixado Pedro, meu irmão caçula, na escola, no caminho da padaria. Foi quando, me preparando para ir trabalhar, uma coisa me ocorreu... Eu já tinha 25 anos de idade e ainda era virgem. Como eu podia ser virgem!? Até Maroca Maria, minha vizinha lésbica, já havia tido um caso com o carteiro, o que a fez perder sua “virgindade heterossexual”, então como eu podia ainda ser virgem?
Feia, eu nunca fui, quer dizer, meus olhos verdes se destacam bem em meu bronze de praia e combinam bastante com meus cabelos cacheados negros. Eu sei que quando passo na rua, ainda escuto os assovios dos peões-de-obra. Eu sei o que vocês podem estar pensando... Mas você quer um peão de obra para você? Claro que não... Mas é que se um peão assovia pra você, então você não está perdida por completo, entende? Então como eu podia ser virgem? Não foi nem o sobrepeso, nem a falta dele... Dava mais para apostar no meu recato, no meu constante autocontrole...
Me olhando no espelho o que eu via? Saia cinza pregueada abaixo do joelho, uma camisa branca de mangas-longas, abotoada até o pescoço, sapatos estilo boneca, devidamente engraxados, calçados em pés com meia-calça branca, cabelos amarrados num rabo-de-cavalo e o rosto sem um pinguinho de maquiagem. Certo, além disso, o que poderia terminar de me tornar de vez uma completa freira reprimida? Isso mesmo, um par de óculos e uma cruz prateada, herança de mamãe, devidamente pendurada no meu pescoço. O que mais eu via? Bem, uma mulher com um corpo bonito, mas escondido, uma jovem de rosto cuidado, afinal desde pequena mamãe insistia comigo para que cuidasse da minha pele, para que ela nunca ficasse manchada, fosse sempre lisa, depilada e uniforme. Mas de que isso importava, se tudo em que eu conseguia pensar era que devia sempre manter meu irmão com estabilidade, com a certeza de que não estava só no mundo, em como devia cuidar melhor da minha tese de Mestrado, ou não conseguiria meu diploma e em como precisava obrigar aqueles fedelhos mimados da Escola Santa Marta a fecharem a prova de física do vestibular?
Meu Deus a única coisa em que conseguia pensar era em números, teses, equações, teorias, na minha avó e no meu irmão que precisavam de mim. Então que razão estava me empurrando a me sentir infeliz por ser virgem? Carência de atenção? Carência de companhia? Carência... de sexo? Será que um dia tudo está ótimo e no outro simplesmente nos deparamos com isso? Como Maroca Maria acordou e decidiu que queria levar o carteiro para a cama?
Eu não sei, mas naquele momento me irritei e indo contra tudo o que me fez passar a vida inteira numa zona de conforto, escondida, sem ser percebida pelas pessoas, liguei para a escola e disse a diretora que me atrasaria para as aulas.
Em seguida, fui ao centro da cidade. Eu morava no Rio de Janeiro, como conseguia ser tão reprimida, quieta, inexperiente e excessivamente vestida, quando sou carioca? Todos sabem que os cariocas meio que possuem fama de descolados e malandros, estava no momento de assumir a carioca adormecida que tinha dentro de mim...
Comprei uma calça de couro, que vou te contar, deixou minha bunda muito empinada, em seguida uma regata branca que amenizou bastante o calor, sandálias de salto agulha, colares compridos prateados que pus no lugar da cruz de mamãe, soltei meus cachinhos negros, passei aqueeeele lápis-de-olho para supervalorizar meu olhar e voilà, eu botava aquela garota daquele filme... Como era o nome? Ah, esqueci, mas é um em que a garota se transformava de patinho feio em uma gata, pois bem, a coloquei no chinelo... Todos me olhavam na rua como se eu fosse alguma daquelas garotas, chamadas de Angels da Victoria´s Secret perdida na rua por milagre.... E pela primeira vez em toda a minha vida, quando entrei no Santa Marta, tive o prazer de ver aquele bando de adolescentes barulhentos, completamente calados, acho que estavam estupefatos. Ainda escutei:
- Cadê Dona Helena? A senhora é nossa professora nova?
Sorrindo de uma maneira quase indecente, dando uma piscadela para a garota, simplesmente respondi:
- Pode me chamar de professora Leninha criança. E eu sou a mesma. A professora Helena, lembra?
E ali, percebi, que nos aprimorarmos, nos darmos a oportunidade de sermos felizes, de curtimos a vida de um modo mais leve, não nos torna pessoas diferentes... Por dentro continuamos os mesmos, mas podemos nos dar ao prazer de vivermos a vida com um pouco mais de alegria e jovialidade. Se queremos exterminar nossas inseguranças, precisamos dar o pontapé inicial, e não supor que isso vai cair do céu em nosso colo...
Ainda seria irmã do Pedro, iria a padaria do Seu Soares, cuidaria da vóvó, terminaria meu Mestrado, ensinaria aqueles fedelhos... Mas experimentando lados novos da vida, estando aberta para novas opções de prazer e de felicidade... Na vida precisamos cruzar os muros que levantamos, para vermos como é do outro lado... A outra visão sempre pode nos completar e nos mostrar o quanto imersos em nossa rotina, acabamos esquecendo do quanto a vida pode ser completa e grandiosa... E daí que para isso eu tenha que vestir uma calça de couro, uma saia pregueada, pular de asa-delta, fazer sexo, continuar virgem, aprender a amar, a ter preguiça, a trabalhar, a brigar ou a perdoar? O importante é cruzar o limite e ver como as coisas podem ser....
Muito prazer, meu nome é Helena Silva, uma mulher tão humana quanto qualquer um de vocês... E entendi, não, não estou louca, nem devassa, apenas entendi que é normal um dia desejar conhecer o que antes parecia não te interessar... É como se listássemos prioridades ao longo da vida, e um dia, há de chegar o dia em que todos, vamos buscar conhecer e viver nossa natureza em toda a sua plenitude...

The End.
______________________________________________________________
Meus queridos amigos blogueiros, como eu disse, estou retornando aos poucos. Andei apenas postando "Poemas (Des)conexos", mas hoje volto a publicar mais uma "História (Des)conexa" em forma de conto. Nossa protagonista é uma jovem como qualquer outra. Uma garota inteligente, esforçada, que sofreu a dor de se tornar órfã logo cedo, e que assumiu com muita dignidade a responsabilidade que lhe foi jogada nos ombros, de ser responsável não apenas pelo próprio futuro, mas por de toda a sua família. E que agora, como acontece com qualquer um de nós, confronta os próprios valores e as próprias escolhas... Como eu disse, lucidez, conservadorismo, devassidão, loucura, são apenas rótulos que nós criamos para nos entendermos e nos sentirmos seguros de quem somos, mas na verdade... são flexíveis e dependem apenas de um ponto-de-vista...
Estou atualizando as visitas e vendo o que posso fazer com a minha caixa de comentários.
P.S.: Estoy no twitter sim e quem quiser trocar umas idéias por lá, basta... me seguir. Sei que não sou muito assídua lá, como uma legítima twitteira viciada de plantão, visto que tenho muitas outras atividades fora da web... Mas sempre vale a pena essa interação sócio-cultural. Basta que vocês cliquem aqui, ou procurem Esyath_Barret.
Beijos (Des)conexos!
Esyath Barret